quinta-feira, 17 de junho de 2010

Soprando no vento

Sete e dezenove da manhã e o despertador toca ao som de Bob Dylan. “Blowing In The Wind” é a primeira canção que escuto quando me pego acordando. Todos os dias têm sido assim.
Levanto, e fixo os pés sobre o tapete de cama. Penso como foi minha noite. Há dias que acordo com vontade de abraçar o mundo e dizer o quanto estou feliz por ainda viver aqui. Por outro lado, há dias que o tapete desliza dos meus pés, fazendo com que eu quase caia bêbada de sono. E é quando isso acontece que sei a excelente noite que tive.
Minha mãe pergunta por que sete e dezenove. Não sei responder. Mas creio que lá pelos 60 anos eu deva considerar o horário algo irrelevante. Hoje, ele ainda me é precioso. E um minuto que seja, faz uma gigantesca diferença.
Acho que se Bob Dylan me chamasse as sete e vinte, não teria tanta perspicácia para ouvir sua trilha. Pronto! Agora já tenho a resposta. Ou a resposta, meu amigo, está soprando no vento.
A pasta de dente é a mesma há dias. Não tenho compartilhado o banheiro com terceiros. Desde que minha irmã mudou-se, a pasta dura o dobro de tempo. É bom! Mas ao mesmo tempo ruim; considerando que sou eu quem abre e quem termina. E com todo esse meu desleixo, detesto espremer cremes dentais.
O espelha revela a raiz do cabelo pintado, e os velhos cravos do rosto. Como eles são apegados a mim! A água da torneira é fria e a patente ainda mais. E o meu dia, que deveria começar otimista, me dá calafrio só de olhar pela fresta de janela aberta.
Tenho duas opções; ignorar as circunstâncias, ali, naquele exato momento. Ou considerá-las importantes para meu crescimento sócio-adaptativo.
Não tenho dificuldade nenhuma em me vestir rápido. Mas o sono é um empecilho.
Quando termino a higiene pessoal, dou de cara com um dos meus nove gatos. Ele olha para mim. Temo toda vez que o encaro. Ele é meu termômetro para saber a respeito de minha aparência.
O caminho até o trabalho varia conforme a pressa. Mas tento evitá-la ao máximo.
O pão e o café são servidos. Nesta hora, sou submetida às intempéries da vida. Surgem as primeiras notícias do dia, a lista do chefe e as picuinhas a serem resolvidas.
“Blowing In The Wind” é a primeira canção que escuto quando me pego acordando. Todos os dias têm sido assim.
A música é tocada pelos homens loucos, e tantas aventuras não poderiam acontecer num só dia. Contento-me em, por enquanto, vivê-los vagarosamente.
O Paraíso pode esperar já que estou apenas observando os céus. Um dia ainda pego uma estrada e saio a 140. Vou dizer "mamãe não esquenta"! Mando um postal de onde estiver e uma carta quando der.
A vida é uma viagem curta. E a resposta, meu amigo, está soprando no vento.
Foto: renata cabrera