segunda-feira, 17 de junho de 2013

Pode ser que seja.

Ainda que numa manhã dessas eu tenha me encontrado com uma sensação horrível sob tensão, ou uma tristeza gigante com algumas ações e porque também não dizer as reações, o que mais me impacta ao assistir todas as apurações realizadas nesses últimos dias, não é a selvageria, o abuso de poder, o autoritarismo, a ambição, espetacularização, radicalismo, brutalidade, intencionalidade, rebeldia ou seja lá como mais podem extrapolar o verbo sobre.

Mas o que mais me impressiona é justamente o contraponto de tudo isso. A vontade de fazer mudança, de olhar sob uma perspectiva diferente da que até então caminhávamos, a ideia de uma transformação... Vejo sim vantagens colossais sobre todo este processo.

No meio desta enxurrada, algumas muitas controvérsias, um papo revolucionário, outro demasiadamente conservador, uma expressa liberdade, uma velada privacidade... Tantos motivos que nos levaram a acordar e sentir uma enorme vontade de fazer diferente. De fazer, e acontecer.

Eu só queria por assim dizer que tenho uma baita admiração por quem tem sede de mudança. Tenho vontade de me envolver, entrar com tudo, chutar o balde e enfiar o pé na jaca... E claro, nada me impede. Mas o que andei pensando é que essa história de coletivismo é linda. Só que fica tão feia enquanto a gente não entender que dentro desse formigueiro é preciso, em primeiro lugar, respeitar a si mesmo; respeitar a voz interna, aquela que comanda mais que a razão... Para daí então, entender que ser um indivíduo é tão, ou mais bonito, que ser um grupo.

Porque é óbvio que acredito na redenção coletiva, acredito que o meio influencia, que um com o outro é melhor que só um único, mas também acredito no poder que há em fazer valer a liberdade individual, pois só a partir dela é que EU vou finalmente conseguir ser NÓS.

Acredito que bonito mesmo vai ser o dia que o ser humano respeitar a si, e só assim vai passar a respeitar um próximo. Porque isso, meus amigos, isso se chama amor. Próprio, ou não, mais vale entender que somos mesmo diferentes, que existem mais de dois sexos, que a verdade nem sempre é só uma, que é necessário quem mande, mas é necessário também quem escute, claro... TUDO isso é necessário!

Só não é necessário, meus caros, fazer valer aquilo que convém. Porque o que convém, não incomoda, não dói, não faz você ser alguém mais compreensível, justo e muito menos honesto. O que convém, é relativo. E ser relativo não é ter respeito, é ser egoísta.

E o contrário de egoísmo, pode ser que seja amor...



Viva Paulo Freire, viva Darcy Ribeiro! E se for preciso brigar para selar a paz, então que seja enquanto ainda estivermos pulsando o amor, antes que ele vire ódio e só nos reste a razão.

quinta-feira, 6 de junho de 2013

O que é de si. O que é do todo.

É igual quando você come bife à parmigiana. Supostamente dentro, tem carne. Por cima, queijunto e preso com molho vermelho. O que você não imaginava é que a carne tinha nervos; ou gorduras salientes. Ou ainda, que a carne, Zé... Era frango!

Todo mundo esconde de si o próprio universo particular. E pior do que esconder, é passar a vida toda tentando encontra-lo. Tentando encontrar-se. Tentando. Mas fácil é empurrar com a barriga.

Mas o disfarce que atravessa a alma é aquele que vem carregado das coisas que menos gostamos de falar. Nossa vaidade, extremo egoísmo, egocentrismo e, paralelo a tudo isso, o medo; medo de barata, de lagartixa, do homem do saco, do velhinho barbudo, da senhora mal encarada que trombava vez em quando no sebo, de tomar um cascudo, de bater de frente, de dar com os burros.

E é por isso que dados comprovam: quem não arrisca, não petisca.

Já ouvi dizer que individualismo não era pra ser coisa ruim. Hoje, de tão pejorativo, até no tom leva o fardo: “- cara individualisssssta”. (carregado de sotaque da gema...). Mas oras, qualé o problema de viver no mundinho? No mundinho tem flor, árvore, pássaros, ar, água, pessoas... PESSOAS? É ué, P-E-S-S-O-A-S! Sacumé?

Um amigo contou que ser um individualista é pra lá de bão. É entender a própria liberdade dentro da existência do próximo. É entender que ser livre o bastante não o torna independente, mas o torna responsável. Diante de um bando de ideias coletivistas, é preciso dar a si, o que é de ‘si’. E ao todo, o que é do todo.

Vai entender essa coisa que inventaram e apelidaram de coragem. Pode ser até que disfarçaram-na iguais uns e outros pelaí... Mas, o que se escuta lá de dentro, do barulho no eco não é AGEM AGEM AGEM... O eco, na verdade, é EDO EDO EDO.

Nem mesmo no meio do protesto, dá pra fugir da consciência. O importante de estar no todo, é concentrar-se em si. E que de dentro surja o grande; pra quando explodir seja pequeno, mas consistente.

Cuide de si, viva o todo, respeite a alma e contemple o povo. Bobagens...
Faz sentido? Sei não. Mas faz frio hoje a noite.

{auto-retrato, em preto e branco, com longa exposição}

quarta-feira, 5 de junho de 2013

A tinta nova de parede

"Gables está ficando mais velha a cada dia que passa. Eu cuido dela o tempo todo, mas não adianta. Eu me viro e a velha patife está sempre soltando uma tábua, um forro ou qualquer coisa. Ora, você sabe, não ficaria surpresa se ela desabasse a varanda um dia desses... a da frente, de preferência". Neal Cassady, O Primeiro Terço.

Dia desses vim parar num lugar que era lugar de gente não ficar. O problema é que por ali muita gente passava. E só passava! Foi dando ansiedade, comichão, vontade de calçar chinelo de segunda a segunda, sair pelo quarto de calça curta e voltar da cozinha com copo de água.
E lá faz sentido viver de aventura se a gente acaba mesmo é se acomodando? Sei não, mas acho que toda esta história de intensidade devia acabar uma hora. Porque no fim das contas, cê acaba precisando de uma mesa com cadeira.
Já ouvi dizer de gente que morou cinco meses em espaço coletivo... Mas não três. E três, teoricamente é menos que cinco, mas na prática, é mais. Ora, mais? É ué, mais! Isso, porque quando passa três, a gente escorrega no tempo feito criança em inauguração de prancha nova do parquinho. Brinca que o tempo parece nem passar. E quando vê, cinco meses! Mas três, três não escorre. Talvez um cadin. Mas dá tempo de olhar o relógio de pulso e acertar com o da parede.
“- Porque as pessoas mudam de casa?” Me perguntei. Parede mofada? Telhado barulhento? Porta rangendo? Vizinho chato, longe do centro, apertada, cara (barata!) e talvez... “- Cansei”. Ah, cansei! Alguns dizem que vencer pelo cansaço tem ainda mais mérito que desistir antes de cair do cavalo. Mas, pensando em tudo isso, acho mesmo é que as pessoas mudam de casa, pra mudar de vida. E mudança, nem sempre é pra frente. Mas gera crise. Gera inquietude. Já vale o esforço.
Agora vejam só que cilada... Cê muda. Cê pula de um galho pro outro. Ai cê cansa. Cansa, e muda de novo. Tremenda barbada essa história de mudar, não? Porque na parede do coração, o que leva sempre é a ânsia de sair por aí. Com o cérebro, deixa pra ele a escolha da tinta nova de parede.

...
E sabe o que mais? Anúncio de jornal nunca vai te contar que a porta range e o teto faz barulho quando venta. Porque o importante, meu amigo, é o cheque do aluguel. A propósito, vou ali tomar água do filtro; já que me livrei da garrafinha pet.

“- Boa noite, casa. Digo, lar!”