segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Lembra dos dias azuis

Me cortei em partes... No começo, travesti meu coração e o fantasiei pro carnaval. Não fiz mais nada além de enchê-lo de bebida, de vícios, carências, bandeiras, fitas, purpurina e lentejoula. Daí cabô carnaval, cabô feriado, cabô traje azul-branco-verde descolado.

Na segunda parte o entupi de carboidratos. Tudo que tinha açúcar deixava o dia mais ironicamente amargo e também o céu da boca seco; cheio de sede e ao mesmo tempo molhado. Acho que é efeito biológico... médicos, pesquisas, especialistas... APONTAM?! Tem explicação? E daí cabô o serviço de quarto e fecharam a cozinha.

Então, na terceira (e também última) parte, já fraco e entupido, ele cuspiu sangue como se fosse a última vez que sobreviveria a um amor de fim de semana. Dali dois dias sumiria de vez e aSSUMIRIA o papel de desolado. Mas como não servia outro papel - a não ser o de protagonista -, foi também na terceira fatia {cansada, tum... tuum... tumm...), que descobriu o afeto de novo. Encontrou num amigo, no sorriso, na atendente daquela mercearia que costumava frequentar, e que mesmo depois de tempos sem voltar ela ainda lembrava o seu nome.

Que dó dá se livrar de passado... Não pode isso! Memória, passado, sentIA, irIA, farIA... Esses IA's todos fazem a gente olhar mesmo é pro ÃO! Olhar pra's coisas boas que passamos e também as que por aí virão.

De qualquer maneira o coração picado - ou fatiado -, fica igual porção de butiquim refinado. A batata frita, o franguinho no palito, o queijo cortado em cubinhos, a salsicha no pote de plástico... Ou ainda o ovo de codorna alaranjado!!! A gente fica bem apesar de o óleo da batata ser tão, ou mais velho, que o vidro de conserva. Pois fica bem.

Mas que é que tem o óleo velho? Que é que tem ser passado? De longe, depois de o tempo caminhar, a gente se acostuma com as mudanças e começa até rir do que deixou. Rir, gritar... Rir na hora de dar a descarga pensando e lembrando do ontem com metade da sobrancelha franzida.

Mas não quero aqui me confundir... Retomando a história do coração, é que no butiquim foi onde em três ele estava era em MIL. Mil partes... E aí que depois de provar cada conserva, também fui encontrando no chão os pedaços. Catei, colei, etiquetei.

Éééé... talvez não adiante tentar catalogar a coisa toda. Porque dali uns 80km a gasolina já muda de preço e o jeito vai ser se acostumar. Se adaptar e nunca enjoar dos dias azuis.

Penso que não enjoei do coração e nem de recompô-lo... Não enjoei de ser driblada por ele... Ainda não! Mas voltando pra casa ontem, "reparei que também tinha ficado lá...". E na próxima saída esqueço as chaves, o cartão do ônibus, o estojo, os óculos de grau... Mas não esqueço mais meu coração.

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