segunda-feira, 19 de agosto de 2013

No plural deste meu singular

Queria me ausentar de 'uma' pra viver outra que fosse menos enfadonha. Um desleixo só e eu seria capaz de re-inventar a história dessa. Mas se por um segundo descuidasse do que é meu, como é que ficaria o 'teu'? Como é que me desprenderia de duas, três, quatro... Pra viver uma?! Uma é pouca coisa pra quem quer descobrir quantas andam fazendo planos, se dividindo, se boicotando, fazendo tripa/ coração pra deixar a fase insonsa, picante. Deixar o trivial, pelo mirabolante...
"- Vou me afundar na lingerie" "- Me jogar no trabalho" "- Festar de quinta a domingo..." "- Ouvir Ramones, Tribalistas e Tom Zé" "- Trocarei a armação dos óculos e cortarei o cabelo" "- Vou ir a costureira e consertar aquela calça que me deixa com a aparência mais jovem"...
Mulher, neura, dor de cabeça, meias no sexto de roupa suja... A preocupação de cada dia é também a de ontem, de hoje e possivelmente a de amanhã.

O problema de se ausentar de uma seria esquecer que dessa única é que surgem minhas mil tentativas de ser cada dia alguém mais pulsante. Alguém que se habilite a forçar, evocar, engrandecer, esmiuçar, aprender, machucar o joelho no guidão da bicicleta e bater o dedinho na quina do criado mudo.
Alguém que pague pra ver!
Deixar que uma só viva, é também matar as outras.
Registro no cartório pra quando uma dessas desmoronar você não olhar pra vida e questionar o que é que houve. No dia que isso acontecer, compadre... Estarão todas no velório!

É bom ser várias, pra não meter a ser uma e esquecer do "- que tal hoje eu ser eu, ela, eu mesma?"  


3 comentários:

  1. Respostas
    1. Obrigada Claudião. Voltei a postar recentemente... Apareça quando quiser...

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  2. Renata, escrevi este poema há algum tempo, pensando nessas contradições. Achei que tem a ver com este seu lindo texto, onde a dicotomia presente é a base para um pensamento poético e repleto de alma. Veja se concorda.
    quantas de mim
    Jotacê de Mattos

    quantas de mim têm por aí a procurar
    um caçador disposto a ser caçado
    um amor que possa ser plenamente gozado
    sendo dona do nariz
    ter um jeito dúbio e feliz
    misturar num só corpo
    mãe, mulher, amante, meretriz
    quantas de mim têm por aí
    querendo ganhar um céu de diamantes
    desejando ter a segurança
    nunca dada às amantes
    sem abrir mão da suas conquistas
    liberdade, lealdade, vida de artista
    quantas de mim têm por aí a esperar
    a dor que vem trazer um trovador da noite
    travestido de lírico poeta
    latino amante que interpreta
    um papel, a fantasia
    pouco deixa, só a sombra
    e a queixa de um mais sonho despedaçado
    quantas iguais a mim procuram a sintonia
    entre o dever e o desejo de viver a fantasia
    de possuir e possuída encontrar
    um caçador disposto a baixar
    as armas e
    tão somente
    amar
    quantas iguais a mim
    são mais a fim é de brigar
    para neste mundo louco impor sua vez
    e pouco a pouco ir conquistando
    esse terreno tão maltratado
    pelos homens no passado
    quantas de mim têm por aí a dizer
    ah! esse seu coração caçador de aventuras
    em tantas procuras nunca caçou o meu amor
    eu quero milhões de abraços
    escutar os passos chegando de madrugada
    deixar a casa arrumada
    para quem nada irá perceber
    mesmo estando nesta vida disputando
    um lugar ao sol com o mesmo homem
    eu desejo o conforto
    ser do homem seu patrão
    e ao mesmo tempo entregar meu coração
    faça dele o que quiser
    e jamais esqueça
    frágil é a aparência
    o que se esconde
    é uma mulher

    Beijos

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